Se você perguntar a um professor o que ele espera que seus alunos aprendam, vai ouvir frases em que ele diz esperar que seus alunos “aprendam a aprender”, “saibam aplicar o que aprenderam”, “desenvolvam pensamento crítico”… são objetivos nobres mas difíceis de definir e medir com clareza. Sem objetivos mensuráveis, a qualidade dos cursos vira a esparrela de um “gostei/não gostei”. Passa o curso e tudo é esquecido.
TAXONOMIA DE BLOOM
A célebre taxonomia de Bloom organiza o aprendizado em uma sequência que vai da ordem inferior (Recordar) até a superior (Criar). É usada há décadas nas escolas para definir quais os objetivos de cursos em planos de ensino e também como base para testes de aprendizagem (ver [1]).
Embora exista desde a década de 1950, a taxonomia sofreu poucas revisões desde a versão original. Mesmo assim, a influência da taxonomia de Bloom tem sido extraordinária, ainda que para muitos seja só uma lista organizada de verbos.
O problema é que muitas habilidades requeridas hoje em dia não podem ser mapeadas por essa taxonomia do conhecimento, tais como liderança, habilidades de comunicação, habilidades para tomada de decisão, aprender a aprender, etc.
TAXONOMIA DO APRENDIZADO SIGNIFICATIVO (Fink)
Existem outras taxonomias em que se procura mapear o aprendizado, nem de longe famosas como a de Bloom mas ainda assim úteis. Entre elas está a taxonomia proposta por Fink (ver [3]), ligada à uma noção de aprendizado significativo:
Em lugar de uma escala sequencial como a de Bloom e interpretada como uma lista de verbos, nesta visão todas as formas de aprendizado estão integradas umas às outras, bem como a atividades significativas e formas especiais de avaliação. Uma nova proposta deveria buscar atingir cada uma das seis dimensões que, resumidamente, são as seguintes:
• Conhecimento fundamental: conhecer os fenômenos associados ao assunto e as ideias conceituais associadas a esses fenômenos. É a dimensão onde entram os conteúdos propriamente ditos.
• Aplicação: usar e pensar sobre o novo conhecimento de várias maneiras. Essa é a habilidade que a maior parte dos professores julga a mais importante. Nela entra “pensamento crítico” ou “aplicar na vida pessoal”.
• Integração: conectar um corpo de conhecimento com outras ideias e corpos de conhecimento. Não existe aprendizado solto, é preciso relacionar um aprendizado novo a algo que já se sabe.
• Dimensão humana: descobrir como interagir de forma mais eficaz consigo mesmo e com os outros.
• Cuidar (no sentido de “se importar”): desenvolver novos interesses, sentimentos e valores. Relacionado a ter energia por aprender mais.
• Aprender como aprender: desenvolver o conhecimento, as habilidades e as estratégias para continuar o aprendizado no futuro após o término do curso. É o sentido de autonomia.
PENSAMENTO CRÍTICO
Entre as seis formas de aprendizado previstas nessa taxonomia está Aplicação. E é dentro de Aplicação que aparece a noção de Pensamento Crítico.
Não há muita clareza sobre o que é pensamento crítico. Uma das razões é que essa noção aparece misturada a outros conceitos. Uma busca rápida na Internet, por exemplo, leva às ideias vagas de que:
O pensamento crítico é uma habilidade fundamental na formação de cidadãos mais conscientes, oferecendo suporte para a tomada de decisões equilibradas e assertivas (https://fia.com.br/blog/pensamento-critico/)
Na era da informação, (pensamento crítico visa…) levar os alunos a desenvolverem uma forma de pensar autônoma e analítica é essencial. (https://blog.portabilis.com.br/estimular-o-pensamento-critico/)
VISÕES DE PENSAMENTO CRÍTICO
O autor Robert Sternberg tem muitos livros sobre inteligência, pensamento e criatividade. Em um deles, ele apresenta um modelo em que propõe três tipos de pensamento (ver[2]). Note como tem total relação com a ideia de Aplicar conhecimentos.
- Pensamento critico: analisar e avaliar algo mas isso depende de critérios claros para avaliar a qualidade das interpretações, explicações e predições.
Nesta visão, pensamento crítico sempre estaria associado também a outros dois tipos de pensamento:
- Pensamento criativo: busca de novas interpretações, ajudar o estudante a ter novas ideias e novas formas de fazer as coisas. É o pensamento crítico criativo que estimula a autonomia do aluno!
- Pensamento prático: como responder questões, tomar decisões e resolver problemas. _Aqui está um dado problema…como você resolve isso?
Finalmente…
Exemplos de como endereçar o pensamento crítico em diferentes áreas, questões e atividades, segundo a abordagem apresentada (tríade do pensamento crítico):
Em resumo, pensamento crítico é relevante, identificável e aplicável. Tem relação com mobilizar conhecimentos, e estimular a autonomia do estudante, podendo apoiar o desenvolvimento de cursos e atividades em todas as áreas.
O mérito de valorizar o pensamento crítico é que ele ecoa na postura do próprio professor que se vê obrigado a fazer perguntas melhores e a propor atividades mais complexas, criativas e interessantes.
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[1] <https://www.beav.ovh/?tag=taxonomia-de-bloom>
[2] Sternberg, R. J. 1989. The Triarchic Mind: A New Theory of Human Intelligence. New York: Penguin.
[3] FINK, L. D. (2019). Creating Significant Learning Experiences: An Integrated Approach to Designing College Courses. San Francisco: Jossey-Bass, 2003.